Estou Aqui !
Eu gosto de escrever. Sempre gostei.
Mas há maneiras e maneiras de escrever:
Uma, é andar por aqui a passear os dedos suavemente por esta tábua cheia de quadradinhos, cada um com a sua letra. Fácil, rápido, eficiente ... onde um Delete, ou um Insert, um Cut, um Copy ou um Paste resolvem qualquer problema.
Outra, a minha preferida, é pegar num pauzinho duro e riscar o papel. De preferencia um papel mole, onde as letras, desenhadas, fiquem gravadas com a força e tudo mais que nos vai na alma.
Pode escrever-se com raiva. Ou com emoção. Com alegria, ou com tristeza. E é a nossa mão que imprime, no papel aquilo que sentimos e aquilo que verdadeiramente somos.
Estou a olhar para o que acabei de escrever. Em papel. (Estou a copiar). Neste texto, tão curto, está lá tudo. As palavras que risquei, as frases em que hesitei e, até, os erros de ortografia.
E tudo faz sentido.
Olho melhor:
O parágrafo em que falo da escrita ao computador é mais "corrido", menos carregado. Vê-se que estava com vontade de despachar.
A seguir, o traço ganha força. Risco na vertical. Não hesito. Repito mesmo, quando gosto particularmente do que escrevi. Há mais pontos e menos vírgulas.
No fim, o meu nome. Eu assino tudo o que escrevo, nem que seja para deitar para o caixote. É uma forma de dizer: Pronto. Já está !
Isabel.
Mas não o Isabel que surge neste ecrã, assepticamente delineado em "times new roman".
O "meu" Isabel é assim: O "I" começa com um risco vertical bem vigoroso. Um tracinho em baixo, um outro em cima de onde parte, em curva e contra-curva o "S". Pausa. O "a" pequeno é um caracol, sempre enrolado de cima para baixo. O "b" também começa com um risco vertical e acaba numa barriga. Parece uma colcheia de pernas para o ar. Tem música!. Outra pausa. O "e" é outro caracol, ao contrário. Tem de ser. Por fim, mais um risco bem vertical, mas sem tracinhos: é o "l" final. Traçado com a mesma força do primeiro. Pronto. E, por vezes, ponto.
A minha assinatura não é uma identificação. É um dizer: Estou Aqui !
Pois ... o problema é que, para comunicar isto, tenho de copiar tudo, passando os dedos, suavemente, por esta tábua cheia de quadradinhos ...
1 Comments:
papel esquiço, reciclado, colorido, branco, pardo. e lápis.
o sabor é outro, a intensidade, os sinais. as lágrimas que esborrataram esta ou aquela letra, a raiva que amachucou tudo e quase deitou fora, a alegria com que se grava o carinho naquele beijo antes do aconchego do envelope.
é por estas e por outras que no natal prefiro os postais, daqueles que levam o selo, se põem no correio e chegam duas semanas depois ao destino. é mais pessoal.
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